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Na Sala de Espera (waiting room)

[27 JUN - 15 AGO 2019]

 

I am a patient boy

I wait, I wait, I wait, I wait

My time is water down a drain

Everybody's moving, everybody's moving

Everybody's moving, Moving, moving, moving

Please don't leave me to remain

In the waiting room (…)[1]

 

A sala de espera é o espaço intersticial por excelência. Encerra em si tanto a expectativa, a meditação e a projeção, como a indolência, a repetição, a ansiedade e a frustração. Reforça a consciência do tempo, releva a condição transitória da vida e coloca o corpo em contacto direto com os seus limites. É um espaço cristalizado, em suspensão, num tempo entre tempos, permanentemente entre passados e presentes, entre acontecimentos. Um espaço intermédio, à espera de ser e de acontecer, entendido como um retrato da própria sociedade, em processo de transição, na expectativa dos próximos passos, solitária e instável, que se liquidifica, onde a única certeza é a incerteza.

 

Na sala de espera estão Cecília Corujo, Maia Horta e Juliana Julieta.

 

A exposição desvela-se através de uma primeira imagem, The Seeker (2017-18). Uma personagem alada, apresentada sobre um fundo anónimo, com muito pouco detalhe. A figura, ao mesmo tempo, imponente e despojada, ganha um caráter quase objetual, de natureza-morta, dada a sua passividade e atitude lacónica. Ela olha para o infinito, mas está presa, em pose, no limbo, incapaz de se mover. Tornou-se uma imagem de si mesma pronta para figurar numa peça de Beckett.

 

Privilegiando a pintura como medium, Juliana Julieta constrói o seu discurso pictórico em torno de um sentimento de perda constante. No seu trabalho, cada momento é suspenso no tempo, numa tentativa de restabelecimento da memória. É esta vontade, esta anamnese que conduz a sua prática, fundada na era da adolescência, na ideia de presentness (no sentido da experiência de momento suspenso), imbuida de um mal-estar freudiano, de uma ansiedade própria da altermodernidade[2], do estado de cultura global, com um olhar tão crítico quanto imerso nas imagens provindas da sociedade do espetáculo[3].

A artista cria atmosferas borremanianas[4], carregadas de tensão, imersas numa solidão profunda, nas quais o sujeito é levado a repetir o mesmo gesto eternamente. Cria imagens que capturam a essência das subcorrentes do quotidiano (como em Eric Fishl), nos instantes, repletos de ambiguidade, pequenos nadas, aparentemente inconsequentes, que refletem o absurdo, as dicotomias da sociedade contemporânea, que tanto procura conteúdo e novos conceitos quanto se refugia na superfície e na imagem.

O que vemos são personagens deste tempo, representadas no interstício, no intervalo da ação, que ao ser retiradas da sua narrativa, potenciam outras. No seu trabalho, quer as imagens provenham da sua experiência, quer sejam apropriações ou ficções, pautam-se quase sempre por uma lógica e estética cinematográficas.

 

Patrícia Trindade, junho 2019 [excerto da folha de sala]

 

[1] Letra Ian MacKaye para a faixa Waiting Room de Fugazi (Kobalt Music Publishing, Ltd).

[2] Conceito proposto por Nicolas Bourriaud para a Tate Triennial (2009)

[3] Debord, Guy (2012) - Sociedade do Espetáculo, Antígona Editora

[4]  Ver Michaël Borremans.

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